Jurista piauiense discorre sobre a "Demissão Cancelada de Mandetta"

Em um artigo enviado com exclusividade à redação do Pauta Judicial a advogada Ilana Alencar transborda em sua escrita e fala da montanha de incertezas vividas por cada brasileiro.

Então vivemos em pandemia em um país onde o presidente da república se debate entre a escolha técnica adequada e sua militância aguerrida. os últimos dias vivemos numa ciranda de posicionamentos oficiais conflitantes e uma evidente incapacidade do nosso mandatário de gerir a crise tanto dentro como fora das suas linhas.

Foto: Divulgação

Jurista Ilana Alencar

O ministro Mandetta começou esse governo como ilustre desconhecido e ganhou espaço e notoriedade ao assumir o combate à pandemia de forma técnica e antenada as principais orientações da OMS, a postura séria e serena aconselhando a população com dados científicos e utilizando as boas práticas testadas em outros países atingidos antes e com mais dureza pelo COVID 19 deixaram o país, em sua maioria, bem impressionado e com a sensação de estar em boas mãos, aqui paro a narrativa para acrescentar dados do nosso presidente, assolado entre duas vertentes internas nas sua próprias hostes é dados a idas e vindas em suas decisões e posicionamentos, espelha-se de regra com admiração embasbacada no Presidente Trump a quem elegeu desde cedo seu modelo, sente-se e é, devedor de sua militância nas redes sociais, fomentada por seu filho Carlos, vereador geral da república, que possui gabinete no palácio do planalto sem ter cargo ou funções oficiais definidos, mas atuação intensa no já famoso gabinete do ódio, responsável pela eleição do inimigo da vez, pois sempre há um novo e a destruir sem compromisso qualquer com a verossimilhança a reputação deste opositor, que muitas vezes, estranhamente é um aliado. 

Voltemos ao ministro Mandetta, diate da epidemia ás nossas portas o presidente em seu tradicional espelhamento com os Estados Unidos resolveu inicialmente que a pandemia era uma histeria infundada e que o isolamento era desnecessário para fazer frente ao vírus, dia a dia o crescimento de casos, aumento de mortes e desmonte da saúde pública americana fizeram com que Trump engolisse o dito e revisse sua postura, tragado pela onda de internações simultâneas que fez os hospitais americanos virarem uma praça de guerra passou a defender o isolamento e dizer que a economia se refará posteriormente.

Veja só, nosso ministro que se alinha a esse pensamento desde sempre manteve a orientação técnica e cresceu ainda mais aos olhos populares, nesse momento o que sentiu o presidente da República? ( com p minusculo mesmo), ciúmes, inveja, medo? não sei ao certo qual sentimento mesquinho, (ou uma mescla de todos esses, o que é possível), insuflado pelo pseudo filósofo e guru da república Olavo de Carvalho,( notório por ser partidário da radicalização do discurso direitista extremo, contra o isolamento e pró retorno imediato das atividades no Brasil, mesmo que continue recolhido em quarentena em sua mansão em Miami), assessorado por seu filho decide chamar ao palácio um pastor que profetiza que o vírus não mais se espalhará, unge o presidente e o blinda, a partir daí a fritura de Mandetta é acelerada...

Observo que jornal italiano, seguido por outros começam a especular sobre a existência de um "governo operacional " no Brasil, um governo paralelo em que o chefe da casa civil Braga Netto estaria efetivamente governando o país e que Bolsonaro estaria apenas fazendo figuração, imagino o impacto no ego presidencial dessas afirmações, mais lenha na fogueira das vaidades...

 No Instagram o presidente clama a posse da caneta e ameaça usá-la, na segunda feira dá-se como certa a demissão do ministro, a movimentação é essa, Osmar Terra, virtual substituto, plenamente alinhado á política presidencial se pronuncia sobre o fim do isolamento, comenta-se que ele já comunicou alguns governadores da mudança, o país aguarda um pronunciamento oficial. Ainda não o temos. Se especula que a ala militar freou o ímpeto presidencial, que ainda que militar não goza de grande respaldo entre seus pares, estamos aqui mais uma vez reféns de um governo pusilânime, emocional e instável, o presidente qual uma diva de ópera caprichosa espera somente a ele os aplausos populares e enciumado arma mais um momento de exibição.

Aos que reputam ser parte de um plano cuidadosamente orquestrado pelo presidente o esfacelamento da democracia para posterior implantação de regime ditatorial militar peço vênia para discordar, primeiro ao nosso oligofrênico governante não atribuo a capacidade de planejamento ou premeditação, creio que por uma conjuntura única de fatores como descontentamento e revolta, mais do que cabida e até tardia, da qual fiz parte, pois os descalabros praticados são sim responsáveis por muitas das nossas mazelas atuais, não sou de nenhum modo partidária do ancient regim.

Mas Bolsonaro não foi eleito por mérito, foi por demérito alheio, começamos a ver o quão ruim essa escolha pode ter sido. O presidente não poderá conclamar golpe sem apoio militar, já que nunca foi respeitado pela ala militar, é um militar tratado e visto como medíocre e sem brilho, não tem suporte pra tanto. O presidente tem se indisposto em seguida com seus ministros mais queridos pela população Moro e Mandetta, com seu homem de confiança de primeira hora Guedes, perdeu alianças de 2018 3 cultivou novas inimizades, se isola dentro e fora de sua própria administração, fora o núcleo duro de militantes que persistem na cegueira a cada dia seu tamanho diminui, só ele não vê???

Para hoje ficou a incerteza de nosso ministro a ser demitido por bom serviços prestados, carregando a terrível pecha da competência num governo que não a preza e a dúvida sobre nossas vias e saúde se a anunciada mudança se concretizar... 

Fonte: Escrito por Ilana Alencar