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Advogado escreve artigo que fala de racismo e desigualdade social

"A realidade posta nos revela um país que nega sua miscigenação, que exclui o outro, principalmente se ele for negro".

SOBRE QUEM SOMOS!

Faz parte da cultura ocidental comemorar o ano novo como uma renovação de nossas esperanças em um futuro melhor. Admito como ocidental que sigo essa tradição, estando próximo de familiares e amigos. Todavia, após sentir-me revigorado com o deleite desse raro momento de paz espiritual, ao bisbilhotar as redes sociais me deparei com uma imagem que me destruiu, e a qual insiste em me consumir diante da minha fragilidade humana.

Foto: Pauta Judicial/Telsirio AlencarAdvogado George Magno
Advogado George Magno

Ao ver essa criança negra com frio, podemos concluir que, em meio a toda aquela gente vestida de branco e preocupada com seus selfies, ela seria quem mais tivesse aproveitando aquele ocasião sublime da passagem de ano novo com os fogos de artifício. 

Entretanto, com todo o ludismo que a causa negra merece e tentando não estereotipar a criança negra que já sofre isso no nosso cotidiano devemos refletir que a mesma não seria convidada para aquela festa pobre que os homens brancos armaram pra se defender. Na verdade eles prefeririam apagar sem ver toda aquela mística rica negra que já existia antes deles nascerem. 

Estamos tão ocupados, ora com nossos feitos e vaidades, ora com nossas agruras reflexos da nossa condição humana na pós-modernidade que nos esquecemos de observar, quiçá se importar, com aquilo que é esfregado em nossas caras de forma violenta e constante: o racismo. 

Não vale aqui uma interpretação isolada do fato em si. Não há apenas a contemplação de um evento festivo/simbólico por uma criança negra. Uma outra visão que não exclui aquela nos remete para uma reflexão bem mais profunda daquilo que somos como seres humanos. Não adianta em um futuro imediato suprir séculos de desumanização com cestas básicas, ou políticas paliativas, haja vista que estas nunca irão cicatrizaras feridas advindas historicamente. Serão apenas, nestes casos, descarrego de culpa, ou tentativas de uma equiparação racial que nunca existiu. 

A realidade posta nos revela um país que nega sua miscigenação, que exclui o outro, principalmente se ele for negro. A discussão aqui se apresenta para além de um debate político. Encontramo-nos num processo acelerado de desumanização. Vivemos no mundo da linguagem instantânea que releva para o último plano a discussão sobre assuntos que revelam nossa pior faceta.

Foto: ReproduçãoA realidade posta nos revela um país que nega sua miscigenação, que exclui o outro, principalmente se ele for negro.
A realidade posta nos revela um país que nega sua miscigenação, que exclui o outro, principalmente se ele for negro.

Diferentemente do que ocorre nos EUA em que o conflito racial/social é estampado no Brasil o racismo é negado! É camuflado nos programas televisivos nos quais negros aparecem na mesma cena que brancos como se essa cimentização da realidade fosse a regra. Não podemos negar o evidente avanço com a introdução do sistema de cotas. Mas, este ainda é muito tímido diante do hiato existente entra a população negra carecedora e aqueles beneficiados por aquele programa. Sem olvidar a resistência imposta pela Casa Grande e seus seguidores, os quais ecoam o discurso em desfavor da manutenção ou melhora dessa compensação histórica aos negros.

Toma conta de mim desde então, uma dor insuportável, talvez por que como lamenta TOM ZÉ (xique-xique) ainda apresente defeito de fabricação. Porque ali vi o quanto sou pequeno, embora carregando no meu sangue o elemento africano, tendo uma sorte maior de ser refletido um pouco na minha pele e cabelo. Sou negão sim senhor, sou senzala, mas sem acreditar nesse contorno apresentado de um mundo harmônico entre dominante e dominado, porque ao contrário seria pecado!

Fonte: Escrito por George Magno, Advogado

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Encerrada em 31/05/2020 11:41

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