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Desembargador Federal narra em sua reflexão:"O mundo não parou, mudou"

Num artigo de profunda reflexão o desembargador federal Carlos Pires Brandão diz que o mundo não parou, apenas mudou, mudo de repente.

Compartilho com vocês uma reflexão sobre essa nova Era, esse novo Tempo, em que fomos compulsoriamente lançados. Na verdade, já estamos vivendo nessa Quadra, com uma certa nostalgia de um passado que se despede, e com os corações dilacerados em saber que familiares e amigos tão próximos enfrentam na própria carne a dor dessa mudança de paradigmas, enchendo-nos de aflições as almas mas exigindo de todos nós uma posição firme, determinada e capaz de levantar novamente a auspiciosa Bandeira da Esperança aos benfazejos sopros da vida.

Foto: TELSÍRIO ALENCAR/PAUTAJUDICIALDesembargador Carlos  Pires Brandão
Desembargador Carlos Pires Brandão

Tenho repetido aqui e alhures: o mundo não parou. O mundo mudou, e mudou de repente. E já havia sinais dessa mudança no cenário, com hábitos que já se sedimentavam nas redes sociais, repercutindo inclusive nos processos políticos, no e-commerce.


O fato de o momento exigir isolamento social, uma medida que nos parece imprescindível para a proteção de nossas vidas físicas, não quer dizer, não quer implicar que todos os arranjos foram bloqueados ou que devam ser inexoravelmente boqueados. 


O que nos ocorreu foi um golpe do destino, com a expansão de um vírus altamente contagioso que nos bloqueou as vias, as estradas, por onde circulavam e fluíam a vida social, os diversos e complexos processos que formam a teia da vida. 


Como a vida é teimosa, certamente já começa a desenvolver vias alternativas, inventando outras estradas, outros caminhos, por onde haverão de novamente desfilar os estandartes da nossa fé. Com isso, abre-se um horizonte de mudanças, movidos pela solidariedade inerente à vida, fazendo nascer nos corações a inteligência para o engenho, de onde brotam os novos inventos. Com esse horizonte aberto a inovações, começam-se a desenhar novas plataformas, novos modais por onde passam a transitar os fluxos sociais, econômicos, políticos, econômicos.


Há diversos exemplos que estão chegando nesse cenário, aportando nas redes sociais, na rede mundial de computadores. Temos hoje, por exemplo, Lives no YouTube com mais de 16 milhões de acessos, atendimentos médicos por telemedicina, debates e fóruns sobre os mais diversos temas, viagens virtuais, e incontáveis iniciativas sustentáveis com os padrões de exigências editados pelas autoridades constituídas.
Trago agora um exemplo de onde trabalho.

Na última semana no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, fizemos a primeira sessão virtual da 5ª Turma, com a participação dos advogados fazendo sustentações orais, de seus escritórios. Não houve qualquer prejuízo para a ampla defesa, ao diálogo que deve ser efetivado nos processos judiciais. Ao contrário. Estávamos todos municiados de aparelhos tecnológicos que nos permitiam acessar, ao tempo dos debates on-line, doutrinas, jurisprudências. Claro que não foi fácil.

O novo ambiente nos exigiu capacidade de inovação, abertura para o diálogo, confiança na honestidade dos argumentos trazidos pelos diversos agentes. E podemos dizer que o resultado foi muito positivo, a nos permitir colher a seguinte impressão:  se essa quarentena demorar um pouco mais, muitos hábitos sociais atuais, práticas sociais, serão transmutados para o ambiente virtual. Sem volta, a não ser a reminiscência de uma doce lembrança de um passado que se vai despedindo.


Com a quarentena, muitos desses arranjos econômicos, institucionais, vão ganhar sustentabilidade. Cabe às autoridades, aos líderes, encaminharem esses processos de transição de forma menos traumática. A leitura da história faz o seguinte alerta: devemos lembrar que é sempre muito doloroso e arriscado qualquer Travessia entre um mundo que se despede e o novo mundo que se descortina. 


O diálogo, o sentimento de solidariedade, a abertura para inovações, o compartilhamento de ideias, de energias e de ações, a transparência nos atos, o respeito a diversidades e diferenças, são fatores e elementos fundantes para a construção de um ambiente de confiança, onde vicejam a paz, a cidadania, a sustentabilidade, a vida.


O Papa Francisco tem ministrado com ações e palavras, apelando a nossa razão, a nossos corações, acerca de nossas atitudes diante do flagelo de dor e de incerteza que matiza o vale por onde cruzamos. Fez-nos lembrar às consciências a necessidade de desenvolvermos uma vida disposta a servir, e a valorizarmos o que realmente se afigura fundamental à vida em comunhão. Assim se expressou: “Queridos amigos, olhem para os verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias: não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros. Sintam-se chamados a arriscar a vida. Porque a maior alegria é dizer sim ao amor, sem se nem mas... Como fez Jesus por nós.”
A vida, sempre teimosa, vai lutar pela vida. Eis o milagre! 
 

Fonte: Por Carlos Augusto Pires Brandão, desembargador Federal do TRF1

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Encerrada em 31/05/2020 11:41

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